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A Sereia Canta ao Abismo

  • Foto do escritor: Lisandro Aqueronte
    Lisandro Aqueronte
  • 2 de out. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 2 de out. de 2024


A imagem monstra uma paisagem noturna: uma barraca ao lado de uma fogueira. Ao fundo uma neblina densa com vários pontos brilhantes como faróis.


A fogueira crepita ao lado de um machado e pedaços de lenha a cortar. Era uma sexta gelada, fora da barraca à margem da represa Jurumirim, a temperatura atinge os 10 °C. E por mais estranho que pareça a friagem não é capaz de fazer Lucas e Igor tremerem, mesmo os dois estando sem roupas na barraca. Não se preocupem com eles, o calor de seus corpos vão esquentá-los e…

— Vergonha? — Pergunta Igor deitando a cabeça sobre as costas de Lucas com um sorriso de deboche — Do que você está com vergonha?

— Para de ri de mim, a coisa é séria, — protesta Lucas que apesar de imprimir severidade na voz está todo derretido pelo abraço de Igor. Tá ele o irrita, mas o conforta, caraterística rara principalmente neste mundo cão que anda vivendo.

— Me conta, qual é a vergonha que você está sentindo? O que está passando em sua cabecinha obscena? — pergunta Igor aos pés do ouvido de Lucas — Será que é algo a ver com palmadas? Sabe, eu não ando me comportando bem… e nem você, seu safado! Hoje no dia do show Gustavo, o dia que vai está todo mundo “longe”, você vem com essa ideia de acampamento, acha que eu não saquei qual é a sua. Agora vem com esse papinho de vergonha…

— É diferente e… PORRA! — grita Lucas ao perceber a silhueta de uma mulher parada diante da barraca os observando, silhueta muito bem desenhada por conta das fontes de luz apontando tanto para a mulher quanto para a barraca como se fosse várias lanternas.

— Que porra é essa?! — pergunta Igor saindo de cima de Lucas e pegando a calça pra se vestir.

— Você está bem? Está acontecendo alguma coisa? — pergunta Lucas para a moça os fitando enquanto veste as roupas. — Espera ai, vou ver o que está acontecendo.

— Espera ai eu… — e antes de Igor terminar Lucas já está do lado de fora.

O jogo de sombras chama sua a atenção fazendo-o vestir a blusa mais de vagar, mesmo sentindo uma corrente de ar frio.

Lucas de mãos para o alto falando com a mulher, ela não responde, de repente se jogar de joelhos ao lado da fogueira.

Assustado Igor pega o canivete e pula para fora da barraca e…


II


…para repentinamente por conta do choque, uma imagem que o confunde, apavora e, ao mesmo tempo, intriga: uma jovem na casa dos vinte, cabelos e saia longos como se estivesse vindo da igreja, porém nada destaca mais do que seus olhos brilhantes parecendo dois faróis na escuridão. Uma rápida olhada em volta e percebem mais pessoas sorrateiras como zumbis se aproximando, todos com olhos de faróis.

O mundo congela perante aquele olhar que atravessa sua alma, sem perceber seu corpo vai em direção aos olhos faróis, estande os braços para a mulher como se quisesse abraçá-la e…

Tropeça e cai com tudo, sacode a cabeça como se acordasse de um sonho e é nesse momento que seus olhos enchem de lágrima e a boca libera um apavorante grito de horror ao ver o namorado golpeando a própria perna com o machado. Fortes golpes partindo a carne e expondo o fêmur que não resiste aos golpes, rachar e quebrar ao meio.

Igor corre até ele segurando o machado e gritando:

— Você está louco! Pare já com… — e as palavras morrem na garganta ao contemplar Lucas com os olhos brilhantes, os olhos de faróis.

O solta na hora andando para trás, a princípio lento para em seguida dar as costas e correr floresta a dentro. Correr de Lucas, da mulher e de todos aqueles olhos faróis iluminando essa sexta maldita, correr sem direção movido pelo desespero e nem repara em sua mão esquerda abrindo o canivete e apunhalando a própria coxa.

Solta um urro e cai no chão, a mão continua cavando sua coxa, cortando tendões e partindo veias, a dor vem com tudo fazendo seus olhos revirarem de puro prazer — prazer que nenhum homem em toda sua vida foi capaz de proporcionar.

Ao olhar para cima, sente vontade de para ao mesmo tempo que quer continuar até o fim e… tudo fica mais claro, percebe a marcha das pessoas olhos de faróis, vira para correr quando vê sua própria imagem refletida numa poça d’água: seus olhos estão brilhando como faróis, a luz no fim do túnel, será o paraíso ou o fogo do inferno? Igor não sabe, porém, na medida que afunda o canivete na sua coxa uma certeza se torna mais clara: morrer é… delicioso!


III


Lua cheia no céu, uma marcha luminosa a passos lentos desce a cidade, nesta noite o show de luzes será inesquecível…




1 comentario

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Invitado
23 ene 2024
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"Morrer é delicioso" credo que delicia de conto.

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