Para quem procura representatividade LGBTs em filmes de terror nacionais eu trago três dicas.
Mesmo vivendo na época de maior representatividade do cinema — e vamos torcer para que nas próximas décadas tenha muito mais #adptaocantonegro — ainda estamos carecidos de obras que tragam essa carga e em especial para o terror. Claro, mesmo pouca, ela ainda existe e eu tive contato com três ótimos exemplares do cinema nacional e é sobre eles que eu quero comentar aqui.
Antes de tudo quero parabenizar todos os autores e cineastas nacionais que não curvam a cabeça para o grande vira-latismo nacional e fazem cinema e livros de gênero neste país. A todos vocês deixo aqui registrado minha singela homenagem, agora sem mais demora, vamos ao…
I. O Segredo De Davi
Este é de longe um dos filmes mais bonitos desta lista seja pela fotografia, os efeitos visuais, o protagonista… quer dizer a trama que oscila entre o drama, a carência e o doentio.
No enredo acompanhamos a história de Davi, um estudante de cinema com um passado conturbado e a estranha mania de filmar as pessoas, um dia ele comete um adorável crime e as coisas ficam muito loucas, muito loucas mesmo.
Como um excelente trabalho de atores, fotografia e efeitos visuais — aparentemente alguém se inspirou em Irreversível (Irréversible,2002) na cena da garrafa de café. O Segredo de Davi é um suspense brutal com um forte drama que brinca com os tabus de nossa sociedade.
A única coisa que me incomoda nesta obra é que ela precisava abraçar com mais força o lado Queer da força, mas se Davi falha nisto, por outro lado…
II. As Boas Maneiras
Esse não só abraça o lado Queer como traz protagonismo preto, lésbico e ainda é ousado por trazer uma trama que mistura terror, fantasia e um musical (não um daqueles alegres da Disney, mas um gótico à fantasma da ópera).
Na trama, acompanhamos uma moça rica e grávida à procura de alguém para lhe ajudar nas tarefas de casa.
A narrativa não tem pressa e constrói uma relação que a casa noite fica mais complicada e cheia de mistérios. Sonambulismo, “jantares” estranhos e um banho de sangue que acaba numa… fica tranquilo não vou dar spoiler.
É impressionante como o filme vai construindo personagens e oscilando entre mundos — destaque para a cena de animação que conta como uma das protagonistas engravidou.
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As boas maneiras é um filme muito diferente do que estamos acostumados e por conta deste vale da estranheza sua apreciação fique comprometida. Porém, se você tiver a mente aberta e aceitar a proposta desta obra vai encontrar uma experiência macabra de sangue e mel numa fantasia de horror linda de morrer.
III. Animal Cordial
Neste terceiro não há um protagonista LGBT e a questão do Queer horror fica mais por conta de um personagem secundário, diga de passagem, o melhor personagem deste filme.
Da diretora Gabriela Amaral, também conhecida como Tarantino de saia, Animal Cordial é surpreendente, violento e poético. Uma curiosidade: para vencer o vira-latismo nacional o filme estreou lá fora onde foi ganhando prêmios e notoriedade até chegar em sua pátria.
Na trama um restaurante com funcionários estressados e clientes insuportáveis está prestes a fechar quando é invadido por criminosos. Inicia-se assim uma pequena carnificina, mas vai por mim, o filme nem de longe vai para o caminho que você espera.
Como uma linda fotógrafa, um tom melancólico que fede a desgraça, O Animal Cordial é um show de horrores. Destaque para a atuação de Irandhir Santos, cozinheiro Djair, que protagonizou duas das melhores cenas, seja a do cabelo, seja o discurso da boca do túmulo preso no frigorífico.
Animal Cordial é um espetáculo!
Espero que tenha gostado da lista e que haja muito mais obras de Queer horror vindo por aí, e das boas, ninguém quer ir pro cinema ver um Exorcista O Devoto. E se você conhece mais alguma obra do cinema, seja internacional, nacional, curta ou longa metragem, não se acanhe e compartilhe conosco.
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