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Foto do escritorLisandro Aqueronte

Resenha Parthenon místico

Uma das melhores ficções brasileiras já escritas, uma aventura por um Brasil steampunk com tantas reviravoltas que mais parece uma montanha-russa indo direto ao inferno.

Textura vermelha rasgada na lateral, no rasgo há a capa do livro Parthenon Místico e ao lado o letreiro sublimado com o texto Resenha seguido do título do livro.

Capa do livro Canto negro

Parthenon Místico

Título Original: Parthenon Místico

Gênero: Ficção

Ano: 2020

País: Brasil

Autor: Enéias Tavares

Editora: Darkside


Nota 5 Pentagramas invertidos

Uma obra de arte, isso, este livro é uma experiência única: tem um design lindo acompanhado de uma delirante história que recria um Brasil steampunk1 e traz releituras de personagens clássicos da nossa literatura. Quando peguei o livro imaginei que seria bom, no entanto, superou muito minhas expectativas, num nível overdose.

Antes de iniciarmos a viagem pelo livro quero trazer uma curiosidade: o Parthenon faz parte do Brasiliana Steampunk, um monstro transmídia contendo várias obras como romances, contos, audiodramas, jogos e até uma série de TV explorando este fascinante universo. Se quiser ter uma experiência mais imersiva ou só saber mais desse universo recomendo que visite o site brasilianasteampunk.com.br.

Em um Brasil do século XIX retrofuturista onde há máquinas a vapor, carruagens sem cavalos, máquinas voadoras e prodigiosos robôs autômatos a sociedade vive em um transe profundo causado pela Ordem Positivista Nacional que engana a população utilizando violência e manipulação para implantar um estado fascista. Neste desconsolado cenário um grupo une forças contra o fascismo, o Parthenon Místico, nossa última esperança contra a Ordem Positivista.

Com o livro em mão a primeira coisa a chamar atenção é o trabalho gráfico da Darkside: capa dura hipnótica com engrenagens, belas artes internas e o que mais chama a minha atenção, o corte colorido em verdes. Claro que seria inútil esse lindo floreio da forma se o conteúdo não fizesse jus.

Enéias Tavares nos brinda com uma escrita que traz o moderno e o antigo numa linguagem irreverente que nos emerge naquele universo fazendo uso de uma grafia arcaica dosada na medida certa para não comprometer a leitura.

Ainda na questão da escrita temos um ponto de ambiguidade: esse é um romance epistolar o que por um lado cria uma narrativa imersiva nos fazendo sentir descobridores daquele Brasil steampunk e, por outro lado, o formato epistolar nos limita deixando muitos trechos secos ou com soluções fáceis demais. Isso gera em mim sentimentos ambivalente com a obra, porém por gostar demais dela as qualidades superam em muito os defeitos.

Um forte ponto que quero destacar é a construção atmosférica. Ao mesmo tempo que mergulhamos nesse universo fascinante percebemos paralelos assustadores com a realidade, a ordem positivista é uma óbvia alegoria ao nazismo representada com um grande grau de crueldade (dentro dos parâmetros de uma obra voltado infantojuvenil é importante não esquecer esse detalhe). Extremamente ousado, o livro também traz protagonismo LGBT; aborda temas como xenofobia; racismo; racismo científico numa trama cheia de elementos fantásticos como magia, fantasmas e robôs.


“Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista.”

— Angela Davis


Outro fenômeno que vale destacar é que tudo parece que cairá no lugar-comum quando o Sr. Enéias Tavares muda radicalmente a expectativa e de repente estamos nadando por águas nunca d’antes exploradas, a melhor ficção científica nacional que já li. Faltam palavras para descrever a montanha-russa que o romance se torna a partir da parte IV.

Claro que para tudo isso funcionar seria necessário um grupo excepcional de personagens e é o que temos aqui: o Parthenon é formado por cientistas, mágicos, aventureiros todos com base em personagens clássicos da nossa literatura como Sérgio e Bento Alves vindo direto do Ateneu ou então Dr. Benignus, de Augusto Emilio Zaluar, e tantas outras obras. Claro que não são releituras genéricas, elas têm camadas, profundidade. E que mais me encanta é o grau de sintonia deles, juntos apresentam uma ótima dinâmica.

Quero fazer uma pincelada e comentar da personagem Nioko Takeda, uma agente oriental da Ordem Positivista, o desenvolvimento dela é muito curioso, mostras os graus da lavagem cerebral que a propaganda fascista promove na população presa neste poderoso transe profundo. Observa a beleza da construção desta personagem: uma pessoa boa fazendo coisas terríveis, pois em seu íntimo acredita está fazendo o certo, afinal de contas, todos somos os heróis de nossa própria história, né mesmo?

Não me atrevo a falar mais por medo de estragar a experiência do livro, só direi que recomendo fortemente a leitura desta obra e que deve existir algo de genuinamente místico no Parthenon, pois sua leitura, por falta de palavra melhor, é mágica.


Para Conhecer mais Sobre o Parthenon Místico


 
Notas:

1. Steampunk também conhecido como Vapor Punk ou Tecnavapor (abreviação de ''Tecnologia a Vapor'') é um subgênero da ficção científica, ou ficção especulativa, que ganhou fama no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Trata-se de obras ambientadas no passado, no qual os paradigmas tecnológicos modernos ocorreram mais cedo do que na História real (ou em um universo com características similares), mas foram obtidos por meio da ciência já disponível naquela época - como, por exemplo, computadores de madeira e aviões movidos a vapor. (Wikipedia)


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